Falar sobre o despertar nunca é simples. Costumo dizer que
os nascidos de 20 anos para cá já vieram com uma carga muito mais intensa do que
os nossos familiares viviam - em especial espiritualmente. Não que não existissem cobranças, pressões ou
prazos naquela época, mas hoje tudo é realmente muito líquido, porém a
densidade e a profundidade são maiores. A pressa em solucionarmos nossos
problemas é tamanha, que buscamos em formas comprimidas (literalmente) soluções para algo que
sempre estará dentro de nós. Nascemos em um tempo onde atividades precisam ser incessantes.
Quando crianças, os nossos pais entendiam que para que tivéssemos um bom
desenvolvimento era necessário ocuparmo-nos fisicamente e mentalmente, também
como forma de terem mais tempo para tratar de outros assuntos, e as conversas de cunho emocional foram ficando cada vez mais sem a devida atenção. O resultado disso? Nos tornamos adultos muito sujeitos a ter mais medo do que força para superar a realidade. Me considero uma
pessoa de sorte ainda, pois meus pais tinham sabedoria e compreenderam que, às
vezes, um momento de ócio para uma criança que já nasceu em um mundo mais
acelerado era necessário, para que ela soubesse lidar com o barulho de sua
própria mente no futuro. E esse é o desafio que encontramos hoje: como lidar
com o silêncio de nossas mentes, já que vivemos buscando atividades para
preencher o nosso tempo? Ou deveria dizer como lidar com o barulho de nossas mentes quando tudo está quieto do lado de fora? Como lidar com nossos conflitos internos? Bom,
evidentemente quando estamos sob pressão ou na correria do dia a dia, nós
podemos até pensar nos nossos problemas, mas só damos a devida atenção no
momento de calmaria, que é quando geralmente as reflexões mais profundas da
alma (sonhos, medos, traumas etc) entram em contato conosco trazendo aquela sensação de desconforto, que nos
faz querer buscar ou a fuga imediata ou a cura para determinado sofrimento/questionamento. E aos poucos nós vamos fazendo um processo gradual de despertar
do espírito, que se reflete tanto no corpo quanto na mente. Acreditamos pensar
ou sentir determinadas coisas que outros não pensam ou sentem. Criamos um mundo
dentro de nós onde parece que por mais que nós nos expliquemos, nunca seremos
de fato compreendidos (além do fato de saber que se explicar dá um certo trabalho!), nos falta paciência para compreender a falta de compreensão alheia sobre os nossos problemas! Então talvez o melhor a se fazer fosse ignorar a
evolução batendo à nossa porta até que ela se resolva por si só ou até que o
mundo resolva por nós, certo? Errado! Engrandecemos tanto o nosso sofrimento, que impedimo-nos
de sermos ajudados por quem, na maioria das vezes com muito mais prática do que
nós, e somente pelo olhar, já decifra. Nós gostamos de nos esconder, porque lidar
com a nossa realidade (embora nem tudo seja sofrimento)
é algo que traz, SIM, muita dor. Mas reflita: será que somos tão intangíveis assim? Será que o nosso
silêncio mal empregado não poderia ser a palavra de conforto para o outro que
está em conflito? A nossa quebra de silêncio pode ser sempre o conforto que alguém busca querer ouvir e nem sempre isso será explícito. É necessário saber desenvolver a empatia. Essas coisas eu me pergunto com frequência porque hoje
vivemos com medo até de falar o que pensamos por achar que a verdade fará mal aos outros,
quando na realidade a verdade por mais dura que seja é a ÚNICA que nos liberta.
Trocamos a verdade pela zona de conforto e falsamente achamos a solução para os
nossos problemas: vamos ouvir o que queremos a fim de não lidar com o que
criamos. E então o universo caminha para essa grande falta de sensibilidade, que
se espalha cada vez mais. Falar sobre si, seus medos, perdas e contentamentos,
tornou-se algo perigoso porque grande parte cre que isso pode ser usado contra si
mesmo. Permita que os seus questionamentos e feridas venham para a superfície
do seu corpo. Conheça quem realmente você é através dos seus momentos mais
extremos. Liberte-se das amarras que criam um universo paralelo dentro de você
e falsas situações de mundo onde tudo parece intangível e insensível. A dor é intrínseca
da vida. É como uma ferida que precisa do seu tempo para cicatrizar e voltar a
ser o que era antes. A dor é um processo do questionamento, e a evolução o da
cura. Ainda que seja difícil aceitar, entender ou lidar com os fatos tanto da
vida quanto os seus, seja bom para com você, seja paciente e sensível. Não seja
tão rude ou pense que é bobagem. Ninguém está em condição melhor nesta Terra,
muito pelo contrário, estamos todos na mesma condição. Se alguém não te
entender, não o culpe; siga em frente porque no caminho haverá milhares de
outros como você, que buscam outros milhares como eles. E os que se entendem, se
unem até sermos um, e os que ainda não é porque não despertaram dentro de si.