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sábado, 19 de setembro de 2015

Procuro



 
Ela é tão independente da dependência
Que é até paradoxal
Mas ela é dependente da independência que ela conquistou
Ela saiu de casa pra buscar a paz, o sossego
De um tudo que ela tinha e um nada que trazia
Meu, você acredita?
Ela foi até a capela para pedir a Nossa Senhora
Que Ela tivesse um pouco de misericórdia
E a tirasse daquela prisão
Um pássaro que só viu a liberdade através das grades
Voou pouco, mas fez viagens incríveis quando o fez
Voltou para o ninho sabendo que aquilo era pro seu bem
Ela cresceu, amadureceu e muito sofreu
Mas sua mãe sabia que logo tudo passaria
E é tão difícil escrever assim sem chorar
Mesmo que não seja por fora
Aquela coisa que só molha o olho, sabe?
Ela sempre soube que conseguiria o que queria
Mesmo que de fato a realidade seja exatamente igual ao que ela pedia
E pra ela soe tão diferente e cheia de aprendizados
Meu, essa menina é forte!
Ela escutou isso toda vida
Foram 11 anos de perseguição
Tipo 11 de Setembro
Aquela época toda foi sempre um tormento
De tudo que vi e escutei
De tudo que passei
E nunca me martirizei
Mas me permiti sofrer
Os olhos escorrem aquilo que não sabemos dizer
Quando tudo na vida está infinitamente mais difícil de viver
Ela não tinha a quem recorrer
Sempre esteve rodeada
Mas de pessoas vazias
Não tinha ninguém
Mas tinha Deus sobre todas as coisas
Tinha os animais, seus melhores amigos
Tinha a natureza que a acolhia quando ao pé da árvore ela dormia
“Que doçura de menina, Alkinha”
Assim dizia a minha tia
“Alkinha é durona por fora, mas tem coração de manteiga”
Sábia tia, pois assim desde criança já me conhecia
Não foi mãe, mas levo como uma
Eu poderia escrever um livro
Contando toda minha história
Que hoje se divide entre riso e memória
E um canto proclamando a minha vitória
Que tanto clamei a Deus
Salve meu Pai, minha Mãe
Luz de paz branca, luz azul de proteção
Aonde quer que eu esteja, os Levo em meu coração
Sou filha de Deus perfeito e sempre serei
Ouvi conselhos para levantar a cabeça
Seguir o caminho do bem
Encontrar a força que ela sabe que tem
A inteligência e a esperteza da águia também
“Alô, passado, é você?
Estou ligando para te agradecer
Porque hoje tu me fez mulher
Amável, sensível, verdadeira
Amar a mim mesma antes de dar alguma certeza a alguém”
É, evolui
E no entanto isso foi tão pouco perto do chão que ainda tenho pra percorrer
Chinelos gastos
Estrada de chão
Pedras, flores
No frio ou no verão
Chuva ou Sol
Levo o meu sorriso comigo
E umas boas memórias
Carrego na bolsa minha amiga incerteza
Ela é minha melhor amiga, sabia?
Porque ela me traz o futuro todos os dias
E o futuro a Deus pertence
Tudo o que temos hoje é o agora
E o agora é um tudo cheio de nada
Porque a incerteza é um nada
Mesmo que se faça de um tudo para ter tudo
Eu posso ter tudo e ainda assim não ter nada
Porque amanhã quererei outro tudo
E depois de amanhã outro tudo
E o tudo se resumirá a conquistas
Que só valerão a pena se eu tiver com quem compartilhar
Família, eu demoro, mas sempre irei voltar
Para poder contar tudo que se passou
Será uma luta árdua
Mas o fim da estrada é onde começa nossa verdadeira jornada.


domingo, 13 de setembro de 2015

Domingo


Domingo é o primeiro dia e eu odeio
Mas ainda sim, eu agradeço
No Domingo tudo acontece
Inclusive nada
É dia de pensar, reviver, recordar
É dia de esperar passar, dormir e acordar
Fazer plano que nem sabemos se irão se concretizar
Domingo é dia de amar e odiar
É o dia da alegria, mas também da melancolia
É dia de se espiritualizar
Neste dia ouvimos uma música qualquer
Que nos lembre de situações, lugares ou pessoas
Ou nos traga sossego e aconchego
Ou ouvimos a música barulhenta dos nossos pensamentos
Ou não ouvimos nada
Muitas vezes a única coisa que podemos ouvir
É o nosso silêncio
E ele nos diz tanta coisa
Que muitas vezes ficamos confusos
Com tantas palavras mudas e sentimentos ocultos
Domingo é dia de olhar para uma foto
Ou para si próprio
É dia de ligar a TV e ver programas populares
Ou mesmo achar um bom filme
Domingo é dia de olhar para o céu
Ou olhar para o nada
É dia de olhar além
E às vezes não enxergar nada
É dia de olhar para alguém
E não se arrepender de nada
Domingo traz um tudo
E um mix de nada
Traz loucura embutida
Numa eterna gargalhada
Domingo lembra que segunda se trabalha
E que nada mudará na terça e na quarta
Porque mudar o mundo é mudar a si próprio
E é impossível obter resultados diferentes
Realizando sempre as mesmas ações
Seja quinta ou sexta
Tenha sempre certa leveza
Se possível, clareza
O sábado chega para nos preparar
Que assim que Domingo chegar
Tudo irá recomeçar
Reinvente-se.


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Voa




Nos tornamos vítimas do nosso próprio desespero
E nesta pista, às vezes, somos os aviões
Outras vezes, passageiros
Vendemo-nos a custa de carícias baratas
Pseudo-amores
Placa de 24 horas
Ou quem sabe
Fique mais de uma noite
Uma placa de vende-se fica mais tempo
Em terra de quem desonra os valores
Quebra de protocolos
Quebra de regras
Quebra de vidro
Quebra uma casa
Quebra até um sigilo
E tudo tem estado tão quebrado
Que colar tem me parecido impossível
Reconstruir um cristal é como tentar recuperar um tempo perdido
Ele jamais será o mesmo
Nem em seu propósito
Nem no seu sentido
Somos escravos das nossas vontades primitivas
E consumimos nossas fantasias em atos impulsivos
Somos a pressa da água que escorre em uma montanha
E hoje a água que me escorre no rosto,
tem a mesma urgência
Mas cai lentamente,
 para eu perceber cada parte da minha existência
Sou um grito de socorro oculto na alma
Sou amor verdadeiro, a cada vez que sinto a tua falta
Sou canção que acolhe, quando tudo está sem alma
Sou uma voz de sossego, quando bate o sopro do vento
Sou alegria que contagia
Tão nublada, quanto ensolarada
Tão meio cheia, quanto meio vazia
Tão esperançosa, quanto uma mera fantasia
E vivo cheia de sonhos em um círculo espaçado
Entre tempo, coragem, amor e saudade
Círculos esses que formaram-se de ciclos
Que hoje me soam tão infinitos
Como um cálculo matemático imperfeito
Que procuro entender desesperadamente,
para avançar uma etapa
E muitas vezes avanço na etapa sem entender o cálculo
A matemática é uma vida também
E isso não se trata de conhecimento
Trata-se do tempo
E quanto tempo mais ainda temos
Para aprender tudo que nos é dito
Sem sofrer com os temores que nos traz o vento?
E hoje voo tão alto que não posso ouvir a mim mesma
Voo em uma perspectiva quase inerte
Esperando um pouso forçado
Ou uma aterrissagem breve
No fim só seremos aquilo que queremos
Se tudo que fizermos for realmente o que nós temos.
O que você tem?