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sábado, 8 de novembro de 2014

Cicatriz




Eu tenho uma cicatriz no braço
e outra na perna
A do braço foi causada em mim
Para o meu bem
Era de uma vacina que toda criança precisa tomar
Ela deixou uma marca que morrerá comigo
Mas a ideia inicial era me proteger
Me proteger do mundo
A cicatriz da perna, eu mesma causei
Por imprudência
Por não pensar no meu próprio bem
Nas consequências das minhas escolhas
Essa cicatriz também morrerá comigo
Ela me ensinou que na vida
É necessário ter cautela
Ter paciência, ser essência
Eu me lembro de todas as vezes
em que minha mãe falava:
“cuidado, menina, vai cair!”
E eu achava aquilo tão chato, desnecessário
E hoje eu vejo que ela me protegia
Como quando me levou para tomar aquela vacina
Ela me protegia não somente das quedas 
que poderiam me ferir fisicamente
Mas das quedas que deixariam marcas invisíveis
Marcas sentimentais, emocionais
Essas são as piores cicatrizes possíveis
Pois ninguém as vê
Tão pouco podem imaginar o tamanho da sua dor
E o que realmente é essencial
Se é invisível aos olhos
Basta que você saiba a origem das suas maiores dores
Dos seus maiores aprendizados
A vida tem um jeito engraçado de ensinar
Ela prova para você que sempre é tempo
Para quem quer mudar
Que a saudade dói, mas ensina
Que a distância machuca, porém te doutrina
Que a frequência é carente
De quem não te pertence
E não se pode exigir um grande coração
De quem hoje só vive para dizer não
A vida te ensina que se você cair
Você pode usar seus braços para se levantar
A vida te ensina que tudo que se planta
Será colhido no futuro
E não necessariamente, ele será daqui a dez anos
O futuro pode ser o minuto que se segue
do horário que você acaba de ver
O futuro é olhar o seu passado
E não perecer
A cicatriz é exatamente isto
O plantio do passado
que se colherá, obrigatoriamente, no futuro
Ela é uma lei universal
Saibamos valorizar as cicatrizes
De qualquer tipo
Elas vão além do seu olho
E também do corpo físico.

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